Um jornalista foi atacado no Twitter, a cada 3 
1 de maio de 2023
Redação

A extensão da violência online contra jornalistas durante a disputa eleitoral entre Jair Bolsonaro e Luís Inacio Lula da Silva foi medida em um relatório que acaba de ser publicado pela representação brasileira da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras. 

O documento O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil contabilizou que entre 15 de agosto e 14 de novembro foram registradas mais de 3,3 milhões de postagens ofensivas e intimidatórias contra jornalistas e meios de comunicação apenas no Twitter. 

A violência online atingiu mais severamente as jornalistas que criticavam abertamente o então presidente Jair Bolsonaro:  53% dos posts ofensivos foram direcionados a elas, e 7 entre os 10 profissionais mais atacados são mulheres.

Violência online contra jornalistas 

Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina, afirma que o estudo de caso sobre o Brasil pode contribuir para os debates globais sobre como proteger o direito da população de acessar informações plurais e independentes em períodos eleitorais. 

O trabalho foi feito pela RSF em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), um dos principais centros de pesquisa de referência em análise de redes sociais e tendências digitais do país. 

Foram monitorados 121 jornalistas e comentaristas, além de perfis de autoridades públicas e candidatos às eleições, resultando na análise de mais de 24 milhões de posts feitos no Twitter entre 16 de agosto e 15 de novembro.

Artur Romeu, diretor da RSF na América Latina, diz no documento que já se esperava um agravamento da situação durante o período eleitoral, que normalmente é marcado por intensificação de violações atingindo jornalistas. 

Os jornalistas mais atacados foram Vera Magalhães (127.990), Ricardo Noblat (107.971), Gabriela Prioli (71.792), Eliane Cantanhêde (60.348), Mônica Bergamo (38.875), Andréia Sadi (31.931), Reinaldo Azevedo (30.518), Miriam Leitão (26.001), Guilherme Amado (22.839),Juliana dal Piva (20.567) e Cynara Menezes (19.853).

Muitos dos ataques foram de natureza misógina, como mostram as palavras mais encontradas nas postagens agressivas. 

Soluções para a violência online contra jornalistas

A Repórteres Sem Fronteiras destaca que a escala, o alcance e a frequência da violência online contra a imprensa estão entre os grandes desafios das democracias modernas – “sobretudo daquelas ameaçadas cotidianamente pelo ascenso do autoritarismo e da extrema-direita“. 

E faz recomendações para combater o problema, que envolvem sociedade, Estados e plataformas digitais:

  • Reconhecimento, pelos Estados, de que ameaças e outras formas de abuso online constituem um ataque direto à liberdade de imprensa, um dos pilares da democracia.
  • Reforço de políticas públicas e o arcabouço legal para restringir o assédio a jornalistas online, e aplicá-las sistematicamente, com especial atenção à violência contra mulheres jornalistas.
  • Legislação sobre assédio coletivo que permita responsabilizar todos os participantes de uma campanha de ataques online.
  • Mudar a atual dinâmica das redes sociais, que trabalham com análises individualizadas de conteúdo e restringem apenas postagens que apelem diretamente à violência física, sem preocupação específica para proteger o exercício do jornalismo.
  • Aumentar o número de moderadores que falem o idioma do país e remover mais rapidamente  conteúdos de ódio e contas criadas exclusivamente com esse objetivo.

A RSF critica o modelo de negócios das plataformas, por “seguir priorizando o engajamento dos usuários a qualquer custo, em busca de dados a serem coletados e do lucro por eles gerado“.

Para a organização, o discurso das big techs sobre “garantir um debate público saudável” não passará de retórica enquanto essas mudanças não forem adotadas

Compartilhe: