O processo de desertificação no semiárido brasileiro está mais grave. Uma recente publicação dos resultados de uma pesquisa inédita identificou, pela primeira vez, áreas áridas ou desérticas na região. Foi o que mostrou o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis/Ufal) e responsável pelo estudo, em palestra realizada no Seminário de Políticas Públicas de Combate à Desertificação.
O evento foi promovido pelo Tribunal de Contas da Paraíba (TCE-PB), em João Pessoa (PB), para mostrar os resultados de uma Auditoria Operacional Coordenada em Políticas Públicas de Combate à Desertificação do Semiárido brasileiro.
De maneira inédita, o TCE da Paraíba coordenou a auditoria integrando cinco tribunais de contas da região Nordeste (além da Paraíba, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe). O objetivo foi fiscalizar a implementação da Política Nacional de Combate à Desertificação do Semiárido e Mitigação dos Efeitos da Seca (Lei nº 13.153/2015), bem como das políticas estaduais nessa área.
O processo de Auditoria surgiu em 2017, por solicitação do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estado da Paraíba (MPjTCE-PB), e foi executado em 2022. A justificativa para a realização foi o aumento do processo de degradação ambiental e da desertificação no semiárido brasileiro, prejudicando os ecossistemas e o bem-estar da população.
Até que ponto as condições climáticas do Semiárido afetam a fisionomia da Caatinga? Esta vegetação depende exclusivamente das chuvas para responder, recuperar sua biomassa e reverdecer? Como a seca e ação humana influenciam as condições biológicas da Caatinga?
O estudo desenvolveu uma metodologia para diferenciar a influência do clima e da ação humana na fisionomia da Caatinga. O artigo”Flash Drought and Its Characteristics in Northeastern South America during 2004–2022 Using Satellite-Based Products” (https://www.mdpi.com/2073-4433/14/11/1629 ) identificou as vulnerabilidade ecológica e desertificação da Caatinga às variações climáticas.
Para isso, analisou a produtividade e dinâmica da vegetação em relação aos padrões de chuvas, umidade do solo, e temperatura e albedo das nuvens, com particular ênfase para os distúrbios e magnitude dos efeitos da seca de 2012-2017.
A pesquisa mostrou a influência dessa grande seca na dinâmica da vegetação, a partir de uma metodologia inédita, desenvolvida para identificar os efeitos das perturbações climáticas e antrópicas.A metodologia do Laboratório Lápis utiliza a abordagem da análise espaço-temporal de imagens de satélites, para caracterizar a dinâmica da vegetação, identificando a ocorrência e amplitude de distúrbios.
Os resultados sugerem que algumas áreas do bioma Caatinga estão particularmente susceptíveis a processos de desertificação. Esse processo é impulsionado pelas secas recentes e pelas perturbações acumuladas ao longo do tempo, decorrentes de impactos humanos e das mudanças no uso da terra.
Além disso, ao comparar a relação entre a atividade da vegetação e a atmosfera, a pesquisa permitiu identificar áreas desertificadas do Semiárido onde houve redução das nuvens (albedo) e aumento da radiação de onda longa. Consequentemente, houve diminuição das chuvas e aumento da aridez na região. Com isso, foi possível identificar, pela primeira vez, áreas áridas no Nordeste brasileiro.
Com os dados e análises de satélites, identificamos um processo no qual a ação humana de degradação, associada às adversidades climáticas, perturbam a vegetação em um nível de gravidade que ela não mais apresenta condições de se recuperar, mesmo que ocorram chuvas suficientes.