O índice de atividade IBCR-NE do Banco Central do Brasil (Bacen) aponta que a economia nordestina avançou 3,2% no 1º trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O percentual supera o índice nacional de 1% de crescimento. Com isso, a região Nordeste teve o maior índice de atividade econômica do Brasil no primeiro trimestre. O resultado não era visto desde março de 2015.
As regiões Norte e Sudeste, ambas com índice de 3,1%, aparecem em seguida. Já a região Sul teve elevação de 1,4%. E o Centro-Oeste não apresentou aumento da atividade econômica no período.
O economista Werton Oliveira, da Ekonomy Consultoria Econômica, de João Pessoa (PB) lista diversos fatores que colaboraram para o crescimento econômico do Nordeste no início de 2024, como a redução do desemprego na região.
“A gente percebe que grande parte desse crescimento se deve justamente à queda nas taxas de desemprego aqui na região. Consequentemente, elevou o nível de rendimento médio real e influencia o consumo das famílias, que impacta diretamente o nível de atividade local”, elenca Werton.
Segundo a análise do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) – área de pesquisa do Banco do Nordeste –, o avanço em Comércio e Serviços favoreceram a atividade econômica nordestina no início do ano.
Entre os estados nordestinos, o Ceará apresentou o maior crescimento no índice, sendo 4,4% no 1° trimestre de 2024, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Para o economista Werton Oliveira, o resultado do Ceará vem a partir de um bom desempenho da indústria local ao longo do tempo.
“O Ceará tem tido um bom desempenho regional há muito tempo. A gente percebe uma mudança significativa na economia local e isso por si só gera uma melhora nos índices econômicos. Esse resultado do 1° trimestre só comprova o que a gente já vem observando, que ao longo desse tempo a indústria local, principalmente, tem tido um bom desempenho frente aos outros estados da região”, salienta Werton Oliveira.
Já o conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE), Davi Azim Filho, destaca o papel do setor de serviços para a economia do estado do Ceará e menciona outros aspectos que contribuíram para o índice.
“Nossa vocação, enquanto o aspecto econômico, é realmente voltado para o setor de serviço. Basta ver como anda o Produto Interno Bruto do estado do Ceará. O setor de serviço realmente contribui de forma significativa para o resultado. Quando avalia-se também alguns aspectos pormenores, ao verificar os serviços prestados às famílias, verifica-se que são contabilizados ocupações artísticas também e outros serviços voltados à questão pessoal. Isso também contribui para esse índice”, afirma Azim.
Na avaliação de Davi Azim Filho, para os resultados demonstrarem um real desenvolvimento econômico para o Ceará também é preciso analisar se há aumento na renda dos trabalhadores cearenses do estado.
“É necessário que a gente analise bem se há um aumento da renda, se realmente há uma distribuição melhor da renda no estado, de uma forma mais homogênea, para que esse bom desempenho realmente signifique desenvolvimento econômico e que também signifique maior nível de renda para o trabalhador cearense”, pontua Azim.
De acordo com o Etene, o crescimento da economia do Ceará está atrelado, em especial, ao avanço das vendas do comércio varejista (9,1%). Davi Azim Filho destaca a influência do setor, mas alerta para possível endividamento familiar em decorrência da oferta de crédito.
“O crescimento do varejo, ele sempre está muito atrelado a uma oferta maior de crédito para o consumidor, ou mesmo leve aumento de renda; as pessoas às vezes estão desocupadas e passam a ter alguma ocupação. É claro que esse índice de atividade econômica tem sim a sua contribuição nisso, agora o que preocupa também é a questão do endividamento das famílias cearenses. É necessário que as pessoas tenham educação financeira”, expõe Azim.
Em relação a outros estados do nordeste, a Bahia apresentou aumento de 3,1% no índice de atividade estadual. Já Pernambuco apresentou elevação de 2,5%, pela ótica do índice de atividade econômica do Bacen.
O economista Werton Oliveira avalia que as perspectivas econômicas para o próximo trimestre são positivas, tendo em vista a queda do desemprego e o aumento do consumo das famílias.
“Levando em consideração os resultados do mercado de trabalho, com queda na taxa de desemprego e elevação na renda real da população, a gente espera que a economia do Nordeste continue crescendo acentuadamente nos próximos semestres, justamente por conta desse bom momento do consumo das famílias. Então, o consumo das famílias puxa muito o crescimento local, já que a gente é uma região muito forte nessa área, não temos muita indústria como tem o Sudeste. Do ponto de vista regional, a gente percebe que a gente vai ter um crescimento mais acentuado neste próximo trimestre”, afirma Werton Oliveira.
Já o conselheiro do Corecon-CE, Davi Azim Filho, salienta que os resultados dependem da dinâmica da economia nacional.
“A expectativa é de que pelo menos consigamos manter essa atividade econômica da forma que está. Mas realmente vai ser necessário analisar como anda a economia nacional para os impactos que vão acontecer para o estado do Ceará e como vai estar a situação fiscal do estado. Se ela estiver degradada, realmente a coisa não vai ser tão boa para a atividade econômica. É necessário que o estado do Ceará amplie a capacidade de atração de investimentos privados maiores ainda para podermos criar um ambiente mais propício”, destaca Davi Azim Filho.