O ano de 2023 não foi bom para as organizações da sociedade civil (OSCs) brasileiras, que foram impactadas pela queda das doações. Quem mostra isso é o Monitor das Doações, uma iniciativa da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), com o apoio do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), que contabiliza doações anunciadas publicamente com valor igual e/ou superior a R$ 3 mil. Em 2022, o valor total das doações foi de mais de R$ 1,4 bilhão. E em 2023, até dezembro, foram contabilizados mais de R$ 436 milhões.
“É uma queda preocupante. Entendo que há duas principais explicações: pessoas e empresas têm doado menos, o que pode ser efeito da crise, da pandemia e de um mundo muito incerto; ou que as pessoas estejam doando mas falando menos sobre isso. O monitor depende que as pessoas, as empresas e as fundações declarem publicamente sua doação. Vemos, talvez, até críticas de pessoas que fazem doações e que comentam sobre isso, o que é uma pena, porque temos estudos científicos mostrando que, quando as pessoas são generosas e declaram isso, há um efeito social positivo de contaminar positivamente e incentivar que outras pessoas também façam atos de generosidade”, explica Fernando Nogueira, diretor-executivo da ABCR.
Para Carolina Farias, líder do Dia de Doar, as críticas a quem comenta sobre as próprias doações realmente podem ter contribuído com a diminuição das doações ou das divulgações. “A queda simboliza não só uma diminuição das doações que estão sendo feitas, mas uma inibição dos doadores que têm compartilhado menos suas boas ações. Alguns anúncios recentes de pessoas públicas que foram criticadas por suas doações podem refletir esse número. Exemplos como da Anitta, Luciano Huck e Virgínia afugentam o debate sobre doações no Brasil e deixam de inspirar novos doadores”.
No Brasil, existem mais de 800 mil organizações sem fins lucrativos, de acordo com o Mapa das OSCs, e que necessitam das doações para sobreviverem. Além da queda nos valores finais, a quantidade de doadores também despencou, passando de 397 em 2022 para 138 até outubro deste ano. “As doações realizadas por empresas e indivíduos são a fonte de sustento das organizações da sociedade civil. No país, essas entidades são responsáveis por atender milhões de pessoas que passam necessidades. Também são elas, com sua presença em todas as mais de 5 mil cidades brasileiras, que conhecem mais a fundo os problemas socioambientais e procuram soluções que possam ser implementadas em larga escala e transformadas em políticas públicas. E é para manter essa máquina funcionando que as empresas e pessoas devem doar, porque elas mesmas se beneficiam do trabalho das ONGs”, alerta Andréa Wolffenbütte, integrante do comitê coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação.
Consequências da diminuição nas doações
Quando há uma diminuição no número de doações, diversos setores são afetados, principalmente as organizações sem fins lucrativos, que dependem quase que totalmente de dinheiro filantrópico, mas também as comunidades em que estão inseridas e a sociedade como um todo. No momento em que as OSCs recebem uma verba menor, automaticamente, suas atividades, seu impacto positivo e o número de contratações diminuem.
“A consequência da queda de doações são menos serviços sociais sendo feitos, organizações sociais que não conseguem atender toda demanda por serviços de saúde, assistência social, educação ou meio ambiente. As organizações têm buscado alternativas para isso, várias fontes de recursos, gerar receitas próprias, buscar outros financiadores, inclusive fora do Brasil, mas é muito importante que as pessoas doem cada vez mais para combater problemas sociais que afetam a todos”, destaca Carolina, do Dia de Doar.
Como incentivar as doações?
A informação é um dos caminhos para aumentar as doações. Informar sobre o destino final do dinheiro ou dos itens doados e destacar o impacto gerado é essencial. “Acredito que se as pessoas entenderem a relevância do trabalho realizado pelas ONGs, elas vão ajudar. Portanto, acho que o melhor caminho para incentivar as doações é investir em comunicação, explicar o que faz, como faz, como utiliza os recursos que recebe, quais são os impactos que provoca e esclarecer, sobretudo, que depende de doações para financiar o trabalho”, afirma Andréa, integrante do comitê coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação.
Para a líder do Dia de Doar, boas ações inspiram outras boas ações, então, é de suma importância compartilhar suas doações, que podem atingir amigos, familiares e colegas, gerando um efeito de contágio positivo. Carolina, do Dia de Doar, destaca algumas dicas para influenciar outras pessoas a doarem também.
O monitor
O preenchimento do monitor é feito de forma manual, assim como a contabilização de novas doações. “A metodologia de alimentação do Monitor das Doações é manual, e conta com uma equipe na ABCR, que pesquisa diariamente a sequência de palavras-chave que possibilite encontrar todas as informações relacionadas à doações no Google do Brasil. Somente são consideradas doações feitas de dentro do Brasil para dentro do país e a partir de R$ 3 mil. Também recebemos alerta das mesmas palavras-chaves por e-mail e notificações de grandes doadores, como institutos e fundações filantrópicas que compartilham suas informações diretamente’, destaca Carolina Farias.
Informe sua doação
Além de acompanhar as notícias públicas sobre doações em jornais, revistas, entre outros meios, o Monitor das Doações também oferece a possibilidade de os doadores informarem diretamente as contribuições filantrópicas para que elas sejam inseridas. Para tornar pública a doação e o nome de quem doa é necessário enviar um e-mail para contato@diadedoar.org.br com informações sobre a doação (ou doações) e o valor.
Sobre a ABCR
A ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) (https://captadores.org.br) reúne e representa os profissionais de captação, mobilização de recursos e desenvolvimento institucional, que atuam para as organizações da sociedade civil no Brasil. Lidera campanhas, eventos e uma série de outras iniciativas de fortalecimento do setor e de apoio a quem atua por uma sociedade mais justa e democrática.
Sobre o GIFE
O GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – é uma plataforma de fortalecimento da filantropia e do investimento social privado no Brasil. Promove espaços de diálogo e colaboração entre as organizações, produz e compartilha conhecimento a partir de pesquisas, análises e debates, buscando referências inovadoras para o constante aprimoramento da atuação dos associados e para o fortalecimento do setor.