Entidades nacionais assinam pacto por produção de hidrogênio renovável no país
8 de maio de 2023
Redação

No dia 5 de maio de 2023, foi assinado pela Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Associação Brasileira do Biogás (ABIOGÁS) e Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) acordo de cooperação, denominado Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável.
 
O acordo representa um passo importante para acelerar o desenvolvimento do mercado brasileiro de hidrogênio renovável (H2R), tanto para exportação quanto para consumo doméstico. O Pacto agrega e representa uma parcela significativa dos agentes e do mercado brasileiro interessado no desenvolvimento da economia de hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis. Com o apoio técnico e institucional de entidades que representam o setor de energias renováveis e de câmaras de comércio bilateral, a iniciativa amplia a cooperação e o networking com importantes players nacionais e internacionais.
 
Com foco em impulsionar a economia de hidrogênio renovável no Brasil, o Pacto tem seis objetivos centrais: (i) contribuir para a definição de um arcabouço regulatório; (ii) desenvolver o mercado de aplicação de hidrogênio renovável; (iii) promover o desenvolvimento socioeconômico, por meio da economia do hidrogênio renovável; (iv) promover o hidrogênio de origem renovável no País; (v) disseminar as oportunidades de hidrogênio renovável aos seus associados e à sociedade brasileira; e (vi) aumentar a competitividade da produção e uso do hidrogênio renovável.
 
As ações conjuntas incluirão atividades e projetos técnicos e institucionais, visando a cooperação e participação das partes em grupos de trabalho, comissões técnicas, eventos, reuniões, debates, seminários, palestras, “road shows”, estudos, publicações e todo o necessário para desenvolver a cadeia de valor do hidrogênio renovável no País, bem como estimular investimentos e negócios e sua divulgação no Brasil e no exterior.
 
Vetor energético e combustível primário, limpo e versátil, o hidrogênio renovável tem potencial para se tornar eixo estratégico na transição energética e descarbonização dos setores produtivos, de diversos segmentos. Além de sustentável, pode ser utilizado em diversas aplicações, reduzindo drasticamente as emissões de gases de efeito estufa de setores de difícil descarbonização, tais como: fertilizantes nitrogenados, mineração, siderurgia, produção de metanol, de aço, transporte aéreo, marítimo e terrestre de veículos pesados, entre outros.


Na visão da ABSOLAR, o acordo é oportuno para criar um ponto focal de apoio ao setor público na criação de políticas ambiciosas, urgentes e assertivas em prol do hidrogênio renovável, acelerando a reindustrialização verde. “Para que o mundo atinja a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa até 2050, o Brasil precisa fazer a sua parte e pode, inclusive, transformar este desafio em uma grande oportunidade de acelerar seu desenvolvimento socioeconômico e ambiental, oferecendo produtos e serviços sustentáveis ao mundo. Os analistas de mercado projetam que, em poucos anos, o Brasil poderá produzir o hidrogênio renovável mais competitivo do mundo, se desenvolver políticas públicas, programas e incentivos adequados. Por isso, o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), do Governo Federal, deve ser repensado, priorizando e incentivando as rotas de produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis”, aponta Rodrigo Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR.
 
Para o executivo, a partir do desenvolvimento do hidrogênio renovável, o País pode ser tornar um líder global na produção, consumo e exportação do combustível limpo. Também pode fortalecer a reindustrialização verde, com a atração de novas fábricas, mais capital internacional, geração de empregos locais, novas oportunidades de negócios e novas tecnologias. “O mercado do hidrogênio é global. Sem incentivos efetivos à produção e ao consumo no mercado doméstico, perderemos oportunidades para outros países. O Brasil precisa avançar com a criação do mercado regulado de carbono, para acelerar a transição energética nos setores mais poluentes”, acrescenta Sauaia.
 
Para a ABEEólica, o hidrogênio renovável é a chave para um mundo neutro em carbono. “No contexto da transição energética justa e no processo de descarbonização, temas estes que estão na pauta mundial, o hidrogênio surge como o combustível vetor da transição energética. Ele é cotado principalmente para descarbonizar setores que hoje são de difícil descarbonização, como é o caso do setor de transportes pesados, caminhões e navios, e o setor siderúrgico” destaca Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias.
 
A abundância de energias renováveis, de vento de qualidade no Brasil e seu respectivo potencial eólico Onshore e Offshore, do recurso solar excepcional e de bioenergias são certamente únicos no mundo. E isso abre uma janela de oportunidade para produção de hidrogênio renovável que coloca o Brasil como um dos grandes destaques e o país que produzirá o hidrogênio renovável mais competitivo do mundo. Há que se considerar especialmente a eólica offshore, cujos projetos são de grande escala, com alta produção de energia. A costa brasileira possui um potencial de mais de 700 GW conforme apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no Roadmap da Eólica Offshore e esta é a nova fronteira de aproveitamento energético no País ao lado do hidrogênio renovável.
 
Além do potencial de produção do Brasil e uso no mercado interno, vemos uma demanda global para o hidrogênio renovável. Há países que precisarão importar hidrogênio renovável e o Brasil pode se tornar um grande exportador deste combustível limpo.
 
“É importante mencionar que o hidrogênio já é realidade no Brasil. Em janeiro deste ano a EDP Brasil inaugurou sua planta piloto de hidrogênio verde no Complexo do Pecém e a UNIGEL terá o primeiro projeto em escala industrial no país. A primeira fase do projeto entrará em operação comercial no final deste ano e conta com uma planta de hidrogênio, abastecida por fonte eólica de energia, a qual produzirá 10 mil toneladas de hidrogênio verde e 60 mil toneladas de amônia verde por ano”, complementa Elbia.
 
Além disso, existem diversos planos anunciados no Brasil para o desenvolvimento de plantas de hidrogênio renovável. Segundo estudo da consultoria Mckinsey, o País poderá instalar uma nova matriz elétrica inteira até 2040, destinada à produção do H2R, trazendo cerca de R$ 1 trilhão em novos investimentos no período. Estes investimentos serão destinados à geração de eletricidade, novas linhas de transmissão e mais unidades fabris do combustível limpo e de estruturas associadas, incluindo terminais portuários, dutos e armazenagem. Isto mostra o interesse das empresas em investirem na cadeia do hidrogênio renovável no Brasil.
 
“Todos esses fatores fazem com que a ABEEólica se sinta honrada e otimista em fazer parte do Pacto Brasileiro pelo H2 Renovável aqui formado entre a AHK Rio, a ABSOLAR e a ABIOGÁS. Temos uma oportunidade única de através do hidrogênio renovável trazermos uma reindustrialização ao Brasil, fomentando investimentos sobre a cadeia de valor deste combustível em todo território nacional. Temos certeza de que, juntos, vamos conseguir contribuir para acelerar o desenvolvimento de políticas públicas capazes de garantir a produção de hidrogênio, e hidrogênio renovável, que atenda demandas internas e externas deste país, gerando emprego e renda para a sociedade.”, finalizou Elbia.
 
Desde junho 2020, quando lançou a sua estratégia de hidrogênio verde, a Alemanha se tornou um país protagonista na transição energética. Com o programa H2 Global lançou no ano passado a primeira chamada pública para compra global de hidrogênio, a qual algumas empresas brasileiras atenderam. Além disso, através do programa H2 Brasil investiu no desenvolvimento de um mercado de hidrogênio renovável no Brasil. Através destes programas, a Alemanha já é um parceiro importante do Brasil nesta caminhada de redução de emissões. O país, pode servir como um comprador do combustível limpo, ou também como um fornecedor de tecnologia ao longo da cadeia de valor do hidrogênio renovável. Neste sentido, a AHK Rio traz para o Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável o componente internacional, além de ser um importante ponto de contato para alavancar as relações comerciais dos dois países, ajudando as empresas a se conectarem.
 
Para a AHK Rio, o hidrogênio renovável tem um potencial enorme na reindustrialização do Brasil, o que pode fortalecer as relações bilaterais entre os dois países. Para Ansgar Pinkowski, Diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da AHK Rio, o Brasil tem uma grande chance de mudar a sua fama de país de exportador de comodities para um país de fornecimento de produtos produzidos de forma sustentável, com uma pegada ambiental muito baixa.
 
“O desafio de transportar o hidrogênio renovável por longas distâncias favorece o desenvolvimento de indústrias próximas ao local onde ele é produzido, com efeitos positivos importantes na economia de vários países. As indústrias irão se instalar onde as condições climáticas e geográficas forem favoráveis à produção de hidrogênio renovável e o custo de transporte for baixo. Neste contexto, Brasil e Alemanha podem se beneficiar mutuamente: o Brasil, com a sua excelente infraestrutura industrial e a longa tradição de relações econômicas com a Alemanha, atrairá cada vez mais empresas alemãs que querem produzir produtos com maior valor agregado no país, e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil – Alemanha do Rio quer e pode assumir um papel importante nesta transformação energética e industrial. O Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável pode ajudar muito nesta discussão, ao criar condições ideais para apoiar o Brasil nesta caminhada”.
 
Para a ABiogás, com a assinatura do documento, o Brasil oficializa a ambição de liderar a descarbonização no mundo também com o hidrogênio renovável, unindo o biogás e a biomassa às fontes eólica e solar. O Brasil é abundante em recursos renováveis, e com potencial de biogás elevado e diversificado, o que o coloca na perspectiva de se tornar o maior fornecedor global do hidrogênio renovável para mercados europeus, asiáticos e norte-americanos. Com isso, o país pode ainda estabelecer um caminho de desenvolvimento econômico e social, baseado em produtos com baixa pegada de carbono.
 
A associação destaca que biogás é insumo para uma rota extremamente interessante para a produção de hidrogênio renovável, que é a reforma a vapor, já consolidada hoje com o uso do gás natural fóssil. Mais de 90% do hidrogênio do mundo atualmente vem do gás natural de origem fóssil, o que facilita o uso do biometano para descarbonizar a produção.  “Uma vez que a molécula do biometano é igual à do gás natural, porém 100% renovável, o hidrogênio renovável a partir do biogás é obtido fazendo uso dos mesmos processos e da infraestrutura já existente, de forma competitiva. Trata-se, portanto, de uma solução imediata de descarbonização da rota mais utilizada hoje no mundo e que contribui para colocar o Brasil na liderança da produção de hidrogênio renovável”, destaca o diretor executivo da ABiogás, Gabriel Kropsck.
 
A partir da percepção de que o setor de energias renováveis precisa de uma representatividade maior nas discussões sobre políticas públicas para o hidrogênio, as quatro associações firmaram o Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável. Como diversos países estão se movimentando para encontrar soluções de descarbonização das economias e dos processos produtivos, é fundamental o posicionamento claro do Brasil como um dos principais produtores do H2R, de forma concreta, ambiciosa e rápida, tendo em vista a vocação do País para a produção de energia renovável competitiva e com escala, além de seu grande potencial de demanda doméstica.
 

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