A equidade de gênero no mercado de trabalho é uma das pautas que mais ganham destaque globalmente. O assunto ganhou ainda mais força com a popularização da agenda ESG. Com quatro anos de presença no Brasil, atualmente gerindo 17 aeroportos pelo país, a Aena conta atualmente com 35% de mulheres no quadro de profissionais. Esse índice está bem acima da média do setor de infraestrutura (16%) e, também, já superou a meta para o setor de transporte aéreo, estabelecida pela Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo, na sigla em inglês), que é chegar em 25% de mulheres até 2025.
Os setores de infraestrutura e aviação são bastante masculinos e “atrair novos talentos femininos e desenvolver quem já está com a gente” são os grandes desafios revelados pela diretora de Organização e Recursos Humanos da Aena Brasil, Márcia Marques. “Quando abrimos vagas, ainda recebemos poucos currículos de mulheres, principalmente para a área de operações. Por isso, temos a função de mostrar para as mulheres que a carreira aeroportuária é possível e que lugar de mulher é onde ela quiser”, resume a executiva.
“Depois que o querosene entra no sangue, não tem mais jeito”
A paixão pelos aviões começou para Viviane Silveira, que hoje coordena a área de Resposta à Emergência de Congonhas, por influência do pai, que trabalhava no aeroporto de Viracopos, em Campinas. “Comecei a me interessar e eu queria mesmo era estar perto dos aviões, ver as coisas acontecendo nos bastidores”, relembra a profissional que já está há 15 anos com “querosene correndo nas veias”.
Segundo Viviane, até hoje tem gente que ainda enxerga de forma mais positiva quando é um homem que exerce determinadas funções. “Já melhorou muito, mas ainda não é 100%. Hoje já tem uma certa igualdade com mulheres em cargos de responsabilidade, com poder de decisão e empoderadas no mundo da transporte aéreo”, comemora.
“O que fazia parte do meu sonho, passou a fazer parte do meu dia a dia”
Crescer em uma casa perto do aeroporto de Maceió foi o que despertou em Luciana Romeiro, atualmente gerente de Operações, Segurança, Serviços e Manutenção do Aeroporto do Recife, a paixão pela aviação. Ela entrou no setor em 2008 na área administrativa, mas a intenção sempre foi “ficar perto dos aviões”.
“Em alguns momentos nós (mulheres) temos que deixar claro nosso conhecimento técnico, precisamos nos posicionar de forma mais enfática para mostrar que temos conhecimento e propriedade sobre o que estamos falando”, ressalta. Para as mulheres que querem entrar no mercado a dica dela é “buscar apreender, se dedicar e dar show”.
“O ambiente corporativo precisa assumir a pauta da misoginia”
Há 13 anos, quando Valéria Albuquerque, jornalista de formação, passou em um concurso para trabalhar em aeroportos já percebeu “de cara” que a quantidade de homens era maior. “Foi uma gestora mulher que me explicou que eu tinha passado por uma situação de machismo e logo percebi que precisaria adotar uma postura de seriedade”, recorda a profissional que hoje é responsável pela área e Resposta à Emergência do Aeroporto do Recife.
Segundo Valéria, as questões básicas da relação das mulheres no ambiente de trabalho, de certa forma, já estão mais claras e certos comportamentos não são mais aceitos. “Não são só postos de trabalho, mas a palavra da mulher precisa ser ouvida e validada. O trabalho agora é combater o machismo sutil do dia a dia”, pontua.
“Promover igualdade de oportunidades é uma questão de justiça social e direitos humanos”
Se hoje ainda são poucas as mulheres que Fiscais de Pátio, quando Suzana Sanches assumiu essa função, em 2006, a presença feminina era ainda menor. “Lá no início eu sentia uma diferença de olhar, especialmente por estar em uma área como o pátio”, relembra ela, que hoje é coordenadora do COA (Centro de Operações Aeroportuárias), em Congonhas.
Ela afirma que vê um progresso significativo no papel das mulheres na aviação, com empresas mais abertas à presença feminina, que reflete no aumento delas em cargos de liderança. Hoje, comandando o coração de um dos aeroportos mais importantes do país, ela afirma que suas contribuições são valorizadas e as decisões respeitadas em um ambiente de colaboração e respeito mútuo. “Isso demonstra que avançamos na direção certa em termos de igualdade de gênero no ambiente de trabalho”.